“Mantra de Água Doce” é uma videoarte realizada a partir de pesquisa e escuta ativa com a dançarina e coreógrafa Tânia Bispo, egbomi do Ilê Axé Kalé Bokun, de nação ijexá. Nossa pesquisa mapeou os sentidos das águas para o sistema ijexá e, mais especificamente, como esta cosmovisão atravessa e se corporifica através da fala e dos movimentos de Tânia Bispo.
A captura das imagens para a criação da videoarte se deu em três fases distintas. Primeiramente, na escuta de Tânia Bispo já relatada aqui, onde a dançarina descreveu os movimentos das águas para o sistema ijexá. A segunda fase foram as filmagens de campo, em busca de águas cobres, águas cristalinas e águas profundas. A terceira fase, foram as filmagens de Tânia Bispo dançando. Os movimentos identificados na primeira fase do processo foram posteriormente replicados como movimentos de câmera dentro da água. A busca por locais de filmagens se deu a partir desta escuta também, pois precisávamos de lugares com águas douradas e cristalinas. O audiovisual, fruto de uma ação artística coletiva, tem como base imagens de três rios – o Rio Marimbus, Rio Roncador e Rio São Francisco – juntamente com os movimentos da dança, poesia e música. Nossa proposta foi criar um vídeo curto que traduzisse um pouco desta ancestralidade da água e seus movimentos. A mescla de imagens e de águas da Bahia fizeram parte desse repertório. O resultado é como um cântico, uma dança de imagens.
O sentido central de uma ação artística é a participação, o prazer em construir uma manifestação artística comum, onde microencontros proporcionem relações e vínculos sociais. Assim, saberes diversos e distintas cosmovisões entram em diálogo para desconstruir ideias enrijecidas e proporcionar transformações individuais e coletivas. O videoarte “Mantra de Água Doce” foi uma espécie de experimento dessa ação coletiva e colaborativa em torno de saberes sobre as águas que, muitas vezes, ficam à margem de saberes institucionalizados, mas que têm a potência de transformar perspectivas socioambientais e culturais
Direção Karla Brunet
Imagem/Edição Karla Brunet
Música/Texto Priscila Cabral
Coreografia/Dança Tânia Bispo
Trilha sonora Betho Wilson
Ecoarte 2023
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